Foi com o resto da pelanca que pegou no caminhão dos ossos na terça-feira, como o EXTRA mostrou na última quarta-feira, que a desempregada D...
Foi com o resto da pelanca que pegou no caminhão dos ossos na terça-feira, como o EXTRA mostrou na última quarta-feira, que a desempregada Denise Fernandes da Silva, de 51 anos, fez o almoço de ontem para os filhos e os 12 netos. Como a quantidade era pouca, e ela não tinha dinheiro para comprar mais alimentos, ela recorreu a doações de frutas e legumes nas proximidades do bairro Parque Alian, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, para incrementar o cardápio do dia. Arroz, feijão e pelanca com batatas:
— É o que temos para o almoço. Mais tarde, Deus proverá.

A criançada da família come o almoço preparado pela ex-merendeira Foto: Domingos Peixoto / Extra
Denise tinha como missão alimentar um batalhão de gente. E fez milagres. Com as mãos fabulosas de uma boa merendeira que foi, aquela foi a principal refeição do dia para a família inteira.

Denise segura as pelancas garimpadas. Ontem, conseguiu batatas para fazer o cozido para a família Foto: Domingos Peixoto / Extra
— Eu ia hoje (ontem) para a Glória para pegar a mistura. Mas não tive os R$ 15 das passagens de ida e volta. Então, para completar o resto (da pelanca) que tinha, fui ali do outro lado da linha do trem e consegui uns tomates, umas batatas, umas cebolas e cheiro verde. Vou acrescentar e, se Deus quiser, vai render — planejava.

Denise e a irmã, Sheila, na fila do caminhão do osso, no último dia 28 Foto: Domingos Peixoto / EXTRA

Denise e a irmã, Sheila, garimpam pelancas rejeitadas por supermercados Foto: Domingos Peixoto / Extra
Com o amor e a experiência de quem já cozinhou para dezenas de crianças na Escola Municipal Parque Alian, a ex-merendeira descascou o alho, a cebola e colocou o resto de carne para cozinhar. Minutos depois, servia a criançada.

Denise preparou com sobras doadas a refeição para a família inteira Foto: Domingos Peixoto / Extra
— Sou muito grata ao seu José (motorista do caminhão que recolhe a ossada de mercados da Zona Sul do Rio e distribuía uma parte à população faminta). Com esse alimento consigo matar a fome dos meus filhos e netos. Olha como ficou bonito — apontou, orgulhosa, para a comida pronta.

Neta de Denise limpa o prato feito com sacrifício e carinho pela avó Foto: Domingos Peixoto / Extra
O jantar, no entanto, ainda era incerto.
Desempregada, Denise conta que passou a pandemia toda tentando o auxílio emergencial, que foi negado. Só uma de suas filhas recebe ajuda do governo.
— Há dois anos eu perdi meu marido, e ele não deixou nenhuma fonte de renda. Então, como não consigo emprego, a gente vive nessa dificuldade. Não queríamos estar nessa situação. O que mais me dói é quando eu abro o armário e não tem nada para eu fazer.
Via Extra
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